Carlos Drummond de Andrade é um dos grandes nomes da literatura brasileira. Nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. Começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
Sua escrita é marcada por sua individualidade, sendo um poeta da ordem e da consolidação, ainda que contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético.
Sua escrita é marcada por sua individualidade, sendo um poeta da ordem e da consolidação, ainda que contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético.
Kinesianos, há pouco tempo eu recebi uma proposta que, particularmente, eu achei muito interessante. Fui desafiada a fazer uma retextualização de um poema do Carlos Drummond de Andrade (olhem só, que responsabilidade), transformando-o em conto. Deveria ser um poema do livro "Alguma poesia" , do Drummond, lançado em 1930. Eu escolhi "Poesia" porque achei que era muito parecido com a minha vida pessoal.
A proposta de retextualização mostra de forma clara como a literatura, mesmo em obras antigas continua sendo atual e pertencendo ativamente a realidade do nosso cotidiano. Eu gostei muito do resultado, que inclui uma foto inspirada nos versos do poema original, e resolvi compartilhar com vocês. Vejam:
Poema original
Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
- Carlos Drummond de Andrade
Conto:
Minha
poesia prevalece
No final de tarde de um
domingo chuvoso, daqueles que nos fazem ter como distração ver o tempo passar,
eu me deitei no sofá da sala. Estava sozinha naquele lugar e extremamente
entediada. Quando percebi, olhar cada quina e viga do teto tinha se tornado meu
passatempo por mais de meia-hora. Pensei que os únicos barulhos que poderia
ouvir naquele momento seriam os da chuva caindo e da minha respiração lenta e
cansada. Me enganei. Meus pensamentos começaram a fazer um barulho estrondoso
na minha mente. Mais tarde eu iria descobrir que era a poesia da minha vida
vindo à tona de novo.
Não
aguentei, aquilo já estava começando a me sufocar. Peguei um caderno e uma
caneta, fui até a mesa. Observei se tinha alguém por perto, eu não queria ser
incomodada naquele momento que seria uma revelação pessoal. Então sentei e
comecei a sentir. Sabia que aquela poesia, que eu deveria escrever, não podia
sair da razão, mas sim da emoção. Era minha verdade absoluta naquele momento,
que estava inquieta, viva em mim, como um grande fogo que se acendeu e tomou
enormes proporções.
Não
sabia o que escrever, mas acreditei que seria fácil. Não foi. Gastei uma hora
pensando um verso que a caneta se recusava a escrever. Sim, sim, não se engane,
ela tinha tinta e estava em ótimo estado para uso por qualquer pessoa. Eu que
não estava pronta. Não estava pronta para me libertar do meu próprio ser. Cada
pedaço daquela poesia, cada verso, era uma parte de mim. Estavam todos dentro
de mim, mas não queriam sair.
Olhei
para o relógio, o tempo passou rápido demais. Desde quando? Me perguntei em voz
baixa e fiquei na dúvida se deveria considerar essa tarde ou desde o início de
minha existência. Cheguei à conclusão que o certo seria os dois.
Voltei para a poesia, eu precisava daquilo pronto, acabado, mesmo sem saber a extensão que ela teria na minha vida e por qual razão ao certo.
Voltei para a poesia, eu precisava daquilo pronto, acabado, mesmo sem saber a extensão que ela teria na minha vida e por qual razão ao certo.
Segurei
a caneta e a obriguei a ser fiel discípula da minha mente até que eu terminasse
tudo o que precisava dizer. Fiquei com raiva, suei, xinguei e quando acabou, eu
finalmente entendi porque estava tão difícil. Aquela escrita não era uma
simples revelação de um segredo de época, guardado no coração da adolescente
que hoje eu sou. A poesia daquele momento inunda minha vida inteira.
Amanda
de Sousa
Bom, kinesianos, eu espero que vocês tenham gostado. Em breve, eu espero continuar essa proposta, com outras poesias ou até mesmo outros escritores e vou compartilhar com vocês aqui no blog. Um beijo e até breve!
Post feito por:
Amanda Sousa
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