Olá, kinesianos! Eu resolvi criar uma tag literária nova aqui no Kinesis. Vai se chamar #OClássicodeHoje e com ela eu vou falar de clássicos da literatura com uma abordagem diferente para mostrar que esses livros, que às vezes são injustiçados por algumas pessoas, principalmente os jovens, são interessantes e muitos são bem atuais mesmo sendo escritos há um tempo.
Para dar início a essa tag eu escolhi o livro "O Pagador de Promessas", do teatrólogo, romancista e autor de minisséries e
telenovelas, Dias Gomes. O livro foi
publicado em 1959, ou seja, pouco tempo antes do início da ditadura militar no
Brasil, mas já era uma época de censura.
É um dos dramas mais importantes do sopro de renovação do teatro nacional, em pleno vigor nos anos 60. A história também virou filme e o sucesso valeu uma indicação ao Oscar e a vitória no Festival de Cannes.
É um dos dramas mais importantes do sopro de renovação do teatro nacional, em pleno vigor nos anos 60. A história também virou filme e o sucesso valeu uma indicação ao Oscar e a vitória no Festival de Cannes.
Dias Gomes nasceu em Salvador na Bahia,
mas mudou-se com os seus pais para o Rio de Janeiro em 1935. Chegou a ser filiado
do Partido Comunista Brasileiro, mas na época (complicações políticas da
ditadura militar) a censura não conhecia os textos de Marx. Para fugir da
perseguição política, Dias Gomes chegou a assinar suas obras com pseudônimos.
Escreveu sucessos como “O pagador de promessas” e “O Bem Amado”.
O
livro pertence ao Modernismo brasileiro e aborda certas temáticas como
conservadorismo clerical, intolerância religiosa, sincretismo religioso,
traição, jogo de interesses e reforma agrária. Conta a emocionante saga de Zé-do-Burro,
homem sertanejo, ingênuo, humilde, de bom coração e muita fé. Para cumprir
promessa feita a Iansã, orixá feminino dito Oiá
nos candomblés ortodoxos nagôs, pela cura de seu burro, ele divide seu
sítio com os lavradores pobres e carrega a pesada cruz de madeira no percurso
de sete léguas com o objetivo de depositá-la no interior da igreja de Santa
bárbara, em Salvador. Iansã e Santa Bárbara se confundem na visão popular, mas
os orixás não são aceitos na Igreja Católica, motivo mais que suficiente para
que as autoridades eclesiásticas se opusessem à entrada de Zé na Igreja, porém
ele não desiste e acaba pagando um preço muito alto por isso, "cavando
sua própria cova" para cumprir uma promessa.
Com a
vinda dos escravos africanos para o Brasil, os europeus decidiram doutriná-los,
não somente nas questões sociais, mas também, na religiosidade. Os europeus
elaboraram uma série de materiais para catequização ao catolicismo e aplicaram
a força na cultura dos escravos. Entretanto, os escravos, como uma forma de
resistência, modificaram o sistema, criando outros nomes para os santos
católicos afim de continuar seus ritos-berço; o que deu origem ao Sincretismo
Religioso no Brasil. Apesar deste sincretismo, a intolerância religiosa no
Brasil ainda é muito marcante e o interesse do livro é mostrar que até mesmo um
católico devoto acabou sofrendo deste mal por fazer sua promessa para Santa
Bárbara no terreiro de Iansã, que são iguais, porém em religiões diferentes.
Antes
de morrer, Zé do Burro faz outra promessa. Ele promete que só sai dali depois
de morto, pois antes ele colocaria a cruz dentro da igreja e no meio da
confusão ele realmente acaba morrendo. Zé, um homem bom, ingênuo, e humilde,
acabou sendo prejudicado por pessoas que queriam se aproveitar da situação.
Tudo é um jogo de interesse, o que nos leva refletir, até que ponto as pessoas
são capazes de ir para tirar proveito próprio. Ele consegue cumprir sua
promessa, pois depois de morto, as pessoas do candomblé e sua esposa o levam
para dentro da igreja com a cruz. O padre começa a se arrepender, pois tudo
poderia ser evitado se o líder religioso tivesse deixado a promessa ser
cumprida logo pela manhã. Da mesma forma, é visível que a intolerância
religiosa surge apenas de um lado, pois as pessoas do candomblé entram dentro
da igreja e ajudam a cumprir uma promessa católica. Até hoje, depois de terem
se passado muitos anos desde a colonização as matrizes africanas não são respeitadas
em um país extremamente miscigenado como o Brasil.
O
final mostra que a frase “o homem é o lobo do homem” é verídica, pois todos
estavam tentando levar vantagem da situação utilizando da má fé e da esperteza,
enquanto Zé envolto em toda a sua ingenuidade não percebe que está “cavando a
sua própria cova”. Sendo considerado por alguns como um messias ou alguém que
queria imitar Jesus Cristo, o fim de Zé é bem parecido com aquele que é
considerado o Salvador pelos cristãos, morrendo injustamente junto a uma cruz.
O livro trata de dois assuntos que merecem destaque: Intolerância religiosa, que foi tema do ENEM do ano passado e sempre vemos alguma notícia de agressão por esse motivo e sincretismo religioso, que foi até tema do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira do carnaval desse ano.
Comentem aqui embaixo se vocês já leram o livro, o que acharam. Se tiverem sugestão de outros clássicos, por favor, deixem o nome nos comentários. A sugestão de vocês pode ser o próximo livro da tag!
Beijos e até breve!
Comentem aqui embaixo se vocês já leram o livro, o que acharam. Se tiverem sugestão de outros clássicos, por favor, deixem o nome nos comentários. A sugestão de vocês pode ser o próximo livro da tag!
Beijos e até breve!
Post feito por:
Amanda Sousa
Amei a Tag! Não conhecia o livro achei bem interessante <3
ResponderExcluirhttp://www.meioquetipoassim.com/
Oi! Que bom que gostou da Tag! O Pagador de Promessas é muito bom! Como é escrito em forma de texto teatral, a leitura é bem dinâmica, rápida e fácil. Mesmo assim a história é muito rica em detalhes. Se puder, leia o livro, garanto que vai valer a pena! :D
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